Comunicado dos portugueses aos políticos.
Políticos,
Ao abrigo do mais elementar dever de cidadania, ouvimos nos últimos dias não só os partidos, mas também o Presidente da República, depois outra vez os partidos, entretanto os comentadores, novamente os senhores dos partidos, outra vez o Presidente da República, outra vez os senhores dos partidos e depois outra vez os comentadores. De todas estas audições, resultou apenas uma forte enxaqueca e uma pequena vontade de espancar um ser vivo, descompressão que é cada vez mais difícil de realizar, em virtude das alterações legislativas que limitam ou inclusivamente impedem a violência sobre pessoas ou animais e sovar uma planta não é a mesma coisa.
No entanto, impõe-se aos portugueses que se pronunciem sobre a situação política e os resultados obtidos nas últimas eleições legislativas, nos termos da alínea a), do ponto 5.4, na página 41 do livro de instruções da nação.
Políticos,
Foram diversas as leituras que fizeram do nosso sentido de voto, mas ainda não conseguiram dar sentido ao nosso voto.
Hoje já é dia quê? 23? As eleições foram a 4. E a única coisa que sabemos é que estamos piores do que no dia 3.
É verdade que são poucos cargos de poder para tanta gente – facto que, desde já, lamentamos – mas impunha-se um esforço para transmitir algo de positivo ao país, em vez desta permanente bulha pelo poder.
Políticos,
Perante este cenário, nós, os portugueses, entendemos transmitir-vos que qualquer governo é óptimo, comecem mas é a trabalhar. Façam um governo de todos e vão rodando, como se fazia com o delegado de turma. Quando não podem ser todos, tem de ser um por dia. Mas trabalhem, pois a Constituição obriga na alínea d) do seu artigo 9.º a promover o bem-estar e a qualidade de vida do povo, o que significa que andam a violar a Constituição vai para… desde que ela existe.
Políticos,
Na verdade, vai tudo dar ao mesmo. Mais à esquerda ou mais à direita, uns dias dão, no outro dia tiram. Querem sair da Nato? Saímos. Querem voltar? Voltamos. O mundo já nos conhece e não nos vai levar a mal. Mas avancem, comecem a trabalhar. Nós sabemos que são coisas importantíssimas, discussões seríssimas, mas aquilo que nós queremos, apenas, é um passeio sem buracos, sem lixo, jardins arranjados, não queremos ser levados por cheias, gostamos de ficar com a maior parte dos nossos rendimentos para fazer umas comprinhas, depois gostamos da saúde, da justiça, da educação… enfim, gostamos daquelas coisas que os povos apreciam.
E vocês, embora gritem que não, estão todos de acordo. É só aquele tesão pelo soft power sagrado que vos faz andar sempre nisto.
Boa noite.