IF: Então, é a minha roupa, trata-se de uma camisa de pescador, calças de ganga e sapatilhas confortáveis.
Extremista: Ganga? Calças de ganga? Veste por favor esta flanela antes que alguém se aleije.
IF: Muito bem. Vou vestir.
Extremista: Veste também esta túnica, mas não é que a camisa de pescador seja uma ofensa, é só porque é feia que dói.
IF: Muito bem. Entretanto, se calhar ia começando a fazer as perguntas.
Extremista: Não. Tu só vais apontar. Quem faz as perguntas a mim sou eu.
IF: Mas isso… [Estrondo] Que barulho foi este!?
Extremista: Foi a mercearia do Sr. Simplício, lá em baixo, que foi pelos ares. Eu espero que não me voltes a contestar.
IF: Mas o Sr. Simplício era tão bom homem e tinha preços tão bons.
Extremista: Vendia bacon e toucinho! E se ias lá pelo preço, experimenta o Al-isuper.
IF: Tem pouca variedade, acho eu. [Estrondo] O que é que foi isto!?
Extremista: Foi o talho. Vamos tentar não criticar mais estabelecimentos comerciais com nome árabe, ok!?
IF: Sim, senhor. É melhor passarmos então às perguntas. [Ouve-se uma rajada de metralhadora.] O que é isto!?
Extremista: Calma, é o meu telefone… Dá-me só um momento… [Estalá? Quem fala? Desculpe, mas agora não me dá muito jeito… Pois, mas já lhe disse que não me dá muito jeito agora… sim, tenho o pacote normal de televisão, net e voz… pois, agradeço, mas não quero o telemóvel… não quero, já disse… não dá mesmo, porque eu tenho de estar sempre a trocar de número por causa da minha profissão… obrigado também, boa tarde…] Peço desculpa, mas estes tipos não respeitam ninguém.
IF: Não é que eu concordasse com isso, pois por acaso até concordava, mas porque é que não os manda pelos ares?
Extremista: Não pode ser. Um primo meu mandou a operadora dele pelos ares e ficou sem sinal durante imenso tempo. Se não fosse esse dano colateral, ai si, já tinha rebentado com aquilo.
IF: Compreendo. [Estrondo.] O que é isto!?
Extremista: Foi o cabeleireiro.
IF: Mas o que é que eu fiz agora!?
Extremista: Nada. Mas estamos a falar bem e eu penso que isso não é salutar, por isso rebentei com o cabeleireiro não só para repor o terror mas também para que se mantenham os níveis de ódio.
IF: Se calhar é melhor a entrevista ficar por aqui. Havia muito mais a perguntar mas eu gostava que o bairro mantivesse algum comércio depois da nossa conversa. [Estrondo.] O que é que foi isto!?
Extremista: Agora não fui eu. Pareceu-me uma porta a bater lá em cima. Mas que raio, porque é que tudo o que acontece de mal no mundo têm de ser sempre os extremistas!? Estou farto das tuas ofensas, com licença: [Estrondo.]
[Nota da redacção: O Imprensa Falsa gostava de deixar uma palavra de apreço pela dedicação e entrega que sempre foi demonstrada por este jornalista, mesmo nas situações mais difíceis e perigosas. #JeSuisSimplício]