Segunda-feira, Maio 12, 2025
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Apita o cargueiro, lá está a apitar

Ao nível do insólito, 2020 não podia começar melhor para os lisboetas. Um barco parado no meio do Tejo teve de passar noites a apitar por causa do nevoeiro. Do ponto de vista técnico-marítimo, parece estar tudo correcto. É mesmo assim que os barcos fazem, apitam. No entanto, também é verdade que Lisboa já viu mais vezes nevoeiro e nem sempre passou a noite com uma buzina de barco. Este é um comandante que, claramente, não quer riscos na pintura. 

Mas ainda no plano técnico, não deixo de levantar uma questão. É que não consigo compreender perfeitamente a utilidade de uma buzina no meio do nevoeiro. Ou seja, vamos imaginar que eu vou no rio, está nevoeiro, de repente um navio enorme apita: Eu vou para onde? É que, no limite, ele pode estar a apitar atrás, para eu sair da frente. É complexo. Sei que há diferentes toques de buzina, que informam se o barco está parado, a manobrar ou a espreguiçar-se, mas enquanto ele buzina e não buzina – porque aquilo não é código Morse – se formos a 10 nós, a colisão pode ser inevitável. 

Seja como for, certo ou errado, a história é óptima. Ainda há dias, por causa da Elsa, não havia barcos no Tejo e esse era o problema. Agora, pelos vistos, há barcos a mais, tanto que o outro tem de passar o dia e a noite agarrado à buzina. Quem diria que o Tejo parece um cruzamento na índia!?

É claro que pode não haver trânsito algum no rio e o comandante está apenas a recorrer ao excesso de zelo para poder desfrutar do prazer de fazer soar o potente apito de um navio ao lado de quinhentas mil pessoas a dormir.

É fácil imaginar, assim por volta das quatro da manhã, o prazer de carregar no botão. Se o fizermos com um carro numa rua, ainda podemos ouvir um desaforo de uma janela. Mas no meio do rio? Buzinamos e… nada. Ninguém reclama. Ou melhor, nós não ouvimos. Era como se estivesse em mute.

Claro que o comandante também tem de ficar acordado para poder incomodar o resto do mundo, mas isso para ele não será um problema. Com um cargueiro daquele tamanho, tudo o que fosse contra o seu casco faria menos barulho do que a buzina, por isso ele apita pelo prazer de despertar meio milhão de pessoas.

Mas a beleza deste caso não se fica por aqui. Há também aquela suspeita de que uma larga maioria de lisboetas, cada vez que o navio apita, grita a dormir: “Passa por cima!”

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