Sexta-feira, Abril 19, 2024
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Discurso de ódio. Ou será de amor?

Reparem que André Ventura compara Joacine a património das ex-colónias digno de estar num museu. Ou seja, chamou-lhe jóia.

Nos últimos dias, a marcar a actualidade política nacional, tem estado uma proposta de Joacine e uma resposta de Ventura. Dois partidos pequenos, com dois deputados no conjunto, fazem tanto barulho. Ainda há dias, no congresso do CDS, vi os centristas muito tristes e preocupados com os resultados das últimas legislativas. Entendem que alcançaram poucos deputados.

A verdade é que o CDS ficou com deputados a mais. Mais quatro, para se ser rigoroso, do que o deputado único que seria desejável para poder estar agora a marcar a agenda política, como André Ventura e Joacine Katar Moreira.

Entre Ventura e Joacine, a deputada do Livre ainda leva vantagem. Ventura já fez de tudo o que acaba em -ista, menos alfarrabista, mas nada bate a popularidade de Joacine. Muitos diziam que a nova deputada ia enfrentar grandes dificuldades por causa da gaguez, mas a verdade é que Joacine não precisa de dizer nada para originar um escândalo.

Talvez seja a própria sociedade a dar-lhe a mão e a ajudá-la. Como tem dificuldade em expressar-se, “não te expresses, não é preciso, nós armamos a barraca à mesma”. Certo é que as duas maiores broncas foram uma vez a sair do Parlamento, em que não disse nada, e outra a entrar, também não falou.

Vem isto a propósito de nada, pois o que me traz aqui é a resposta de Ventura à proposta de Joacine. A ainda deputada ainda do Livre quer que Portugal devolva o património que trouxe das ex-colónias e que exibe nos seus museus.

Nisto, Ventura, que adora museus, disse “ai é, ai é”, e depois continuou “então eu também proponho que a própria deputada Joacine seja devolvida ao seu país de origem”.

Esta espécie de “vai para a tua terra” em jargão do SEF caiu mal, claro. Ventura deve ter escrito e apagado, várias vezes, “vá para a sua terra” em vez de “devolvida ao seu país de origem”, mas até ele achou demasiado e reprimiu-se. Como se tivesse um Ferro Rodrigues na sua cabeça.

Aquilo que considero injusto é tanta gente ter encontrado um discurso de ódio no post de Ventura, quando me parece que estamos perante uma grande paixão. Reparem que André Ventura compara Joacine a património das ex-colónias digno de estar num museu. Ou seja, chamou-lhe jóia. A existir aqui algum crime é o do piropo. O Bloco já devia ter vindo denunciar.

Mais. Com aquela voluntária bojarda, André Ventura fez mais por Joacine do que alguém alguma vez fez, incluindo aquele seu assessor raro. Foi graças a André Ventura, que se atirou aos leões, sem medo, temerário, intrépido, que Joacine conseguiu granjear alguma simpatia na população, pelo menos por algumas horas.

Não vi ninguém, nem no Livre, nem no Parlamento, nem no gabinete, nem sequer em casa de Joacine fazer isto por ela. André Ventura pode estar perdidamente apaixonado pela deputada do Livre. Como é que ele vai dizer isto lá no partido é que eu não sei. Mas pense assim: Podia ser mais difícil se sentisse um fraquinho pelo Chicão.

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