As pessoas voltaram a ir aos mercados. Assim dito, imaginamos a malta com os carrinhos de rodinhas a escolher as frutas e as hortaliças. “A como é que são as nabiças?” – alguém pergunta.
Na verdade, as pessoas voltaram a ir aos mercados porque os mercados já não são mercados. São food courts. Mas calma, porque não são food courts como há nos centros comerciais. A cena dos tabuleiros, etc.. Nada disso. São food courts gourmet. Tudo muito chique.
Em Lisboa, o primeiro a abrir foi o de Campo de Ourique. Um espaço simpático, com alguma oferta. O presuntinho, o queijinho, o vinhinho, a empadazita, uma ou outra ostra, um talhito e até sushi. O sushi está em toda a parte. Vai uma aposta que este Verão já se encontra sushi na área de serviço de Grândola?
Bom, mas depois do de Campo de Ourique, foi inaugurado o Mercado da Ribeira, pelas mãos da revista Time Out. Também está muito bom, sim senhor, não desfazendo.
Muito maior que o de Campo de Ourique, tem também naturalmente muito mais variedade. Tem também muito mais gente, claro. Quem ainda não foi ao Mercado da Ribeira, é melhor esperar pelo Benfica – Sporting, pois aquilo tem metido mais gente que os concertos dos U2.
Mas está giro, está. Talvez um pouco ainda novo demais. Está muito igual e muito limpinho. Parece mais uma fábrica alemã do que um tasco luso. Mas com o uso e com os costumes, aquilo pode ganhar pátina sem perder o estilo. Ou seja, não imagino as barracas com bandeiras de Portugal oferecidas por um jornal e relógios da Super Bock. Mas aquilo tudo precisa de acachapar. Está ainda muito asséptico.
Mas com o tempo vai naturalmente chegar àquela maravilhosa bagunça controlada dos mercados-piloto que nós abrimos em Madrid para ver se corria bem e se então podíamos abrir uns iguais em Portugal.
Sobre a oferta, é mais que muita. Desde o Monte Mar, que consegue ter em Lisboa uma fiel demonstração do que faz no Guincho, até ao Café de São Bento e à Tarta-ria supervisionada pelo estrelado Dieter Koschina – uma pequena nota para dizer que não há apelido mais feliz para um chef -, passando pelas novas modas dos hambúrgueres e dos pregos, que não obstante a preocupante erupção de hamburguerias e pregarias em cada esquina, a verdade é que é cada uma melhor do que a outra. Mas já chega, ok? Pronto.
Sobre preços, é melhor não falarmos para a conversa não azedar. Digamos que pelo preço que se gasta hoje nos mercados, nos mercados antigos levava-se comida para meio ano. A não ser que se comprasse peixe, que como se sabe é uma fortuna. Às vezes parece que o peixe vem da lota de táxi.
Mas enfim, os queridos mudaram os mercados. E foi uma boa surpresa.