A semana passada ficou marcada pela notícia do novo ofício da antiga ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, numa gestora de dívida que, entre outras coisas, esteve envolvida em negócios com o BANIF. O país voltou a ficar chocado, numa primeira fase, mas depois acalmou quando começaram a circular os inúmeros exemplos de situações semelhantes.
O que custa mesmo é a primeira vez. Depois habituamo-nos. É sempre assim. Foi assim com os bancos, por exemplo. Quando o BPN caiu foi uma desgraça, mas depois começaram a cair com imensa naturalidade.
Seja como for, aquilo que parece evidente é que a questão não se coloca tanto ao nível do destino do político, depois de abandonar funções, mas mais ao nível da origem, de onde ele veio. É claro que saem quase sempre para melhor, pois na maioria dos casos não vinham de lado algum. Para quem não tinha feito nada antes de ser titular de um cargo político, é natural que tudo o que lhe aconteça depois disso seja um luxo.
Há excepções? Claro que sim. Mas em democracia manda sempre a maioria e a maioria dos titulares de cargos políticos vem das trevas. Claro que tudo o que encontram depois é paradisíaco.
A verdade é que são poucas as pessoas com trambelho que se metem na política por estes dias. Ganha-se mal – comparando não com um metalúrgico mas com posições semelhantes no sector privado – e ouvem chamar-lhes “incompetentes” no Parlamento e “gatunos” nas ruas. Há quem se meta nisto por espírito de missão, sim, mas a maioria é por exclusão de partes.
Num mundo perfeito, os governantes deviam sair do governo para altos cargos, nomeadamente no sector privado. Isso devia ser um bom sinal. Mas a política está tão bem entregue que, sim, só pode ser um péssimo sinal.