Cada dia que passa, as autárquicas estão mais próximas e com elas um conjunto de fenómenos muito raros que só ocorrem de quatro em quatro anos.
Por exemplo, começa a ser possível ver passadeiras. “Eu nem sabia que havia uma passadeira aqui, ou melhor, já não me lembrava”, comentava Simplício, há instantes, à porta de sua casa.
“Mas é um espectáculo lindíssimo… a pessoa chega e uau… estas listas brancas, bem visíveis, grossas, observam-se inclusivamente a olho nu”, acrescenta, “olhe… aquele buraco que um dia engoliu a minha mulher e só fomos dar com ela uns dias depois, também foi tapado”.
Recorde-se que muitos portugueses, quando não há autárquicas, andam com uma lata de tinta branca para pintar as passadeiras quando precisam, por alguma razão, de passar para o outro lado.
Para além das passadeiras, as estradas e os passeios também ficam, nesta altura, planos e sem buracos. Os jardins assemelham-se a jardins. “Isto agora parece o Palácio de Versalhes, ainda ontem parecia uma selva”, relata outro indivíduo, “um dia cheguei a ter aqui um encontro com um alce, não ganhei para o susto”.


