Esta dos museus gratuitos ao domingo de manhã, não percebi. Desde logo, porque não são gratuitos. Haverá uma compensação do Fundo de Fomento Cultural para cada entrada “gratuita”. Ou seja, o Estado paga o bilhete. É diferente de ser gratuito. Gratuito é, por exemplo, o chocolate no café que os restaurantes oferecem. O Estado não vai lá depois pagar-nos o chocolate. Talvez o senhor do restaurante tenha feito o preço do café a contar com a guloseima, mas os comensais da mesa do lado não me estão a pagar o bombom.
A proposta dos museus gratuitos ao domingo e feriados de manhã foi aprovada por todos os partidos menos pelo PS, que lá saberá que não tem folga nem para pagar bilhetes de museu. Mas qual é a ideia da direita? Tanta conversa, tanta reforma, tanto corte, mas agora não se ensaia para ir a um orçamento de 30 milhões de euros (o Fundo de Fomento de Cultural) retirar dinheiro para pagar os bilhetes dos museus ao domingo de manhã!?
A ideia pode ser lixar as contas ao Governo – que espera que não se funda nem uma lâmpada. É ver a direita toda nos museus. Todos os fins-de-semana. Só para queimar bilhetes. Mas não é coerente com a estratégia recente, muito menos com o discurso de que estamos a ir pelo cano. A menos que os museus sejam a banda que continua a tocar enquanto vamos ao fundo.
Certo é que o orçamento do Fundo de Fomento Cultural não pára de aumentar e a malta está cada vez mais bronca. Não há qualquer coisa aqui que está a falhar? Hã? Não sei, digo eu. Se calhar é torrar os 5 mil milhões de euros da Caixa em entradas nos museus e depois já nem precisamos de bancos. Ou melhor, precisamos, mas só bancos de jardim. Para ler. Ou para contemplar, porque o culto também contempla que se farta. Às vezes não se passa nada mas ele contempla imensas coisas. Porque é culto, lá está.
Pessoalmente, mas isso sou eu, acho que o fomento da cultura é na escola e não é preciso oferecer bilhetes. Ou se se oferece, então ofereça-se mesmo. Abre-se a porta e lá vai o cidadão maravilhar-se. Não é abrir as portas para o cidadão maravilhar-se e depois pedir dez paus ao Estado. O grátis, em Portugal, é um conceito engraçado. Com tanta gratuitidade, não sei é como é que temos uma dívida de 243 mil milhões de euros e a crescer. Então mas não era grátis!?