Quinta-feira, Abril 18, 2024
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Opinião: Lisboa, um luxo cheio de lixo

11403250_1094537920573558_9122607373605491307_nA zona da Ajuda, em Lisboa, foi a que resistiu melhor ao grande terramoto, pelo que o rei D. José mandou ali fazer um palácio. Na verdade, mandou fazer uma Real Barraca – literalmente – que veio mais tarde a dar lugar ao Palácio Nacional da Ajuda.

Bom, mas se a Ajuda resiste bem a sismos, o mesmo não se pode dizer em relação à incúria dos políticos contemporâneos. Nessa matéria, a Ajuda já cai como qualquer outro ponto da cidade.

Os jardins em frente ao Palácio estão destruídos. As árvores parecem daninhas e a relva está seca. Como se não bastasse, há lixo por todo o lado. Pacotes, papéis, garrafas. Aquele lixo, mesmo lixo. Não é sujidade, pó, terra, folhas. Disso também se encontra, mas depois há lixo, mesmo lixo. Daquele lixo que é caca.

Entretanto, é bom lembrar que a obra ainda não está acabada, mas disso nem nos vamos ocupar agora, embora seja notável como tantas gerações depois, ainda não se rematou o Palácio. Pedia-se então, pelo menos, que a parte da frente estivesse arranjada. Contudo, olhando para a fachada e para aquelas janelas, dir-se-ia que a Ajuda nem sequer resiste ao passar do tempo, quanto mais a sismos. Depois é o lixo. A desarrumação. A porcaria.

Dados recentes confirmavam que a câmara de Lisboa tem o dobro de funcionários de Madrid por mil habitantes. Mas nem era preciso ir buscar estas comparações com “lá fora”, pois todo o mundo sabe que a câmara de Lisboa tem um número disparatado de funcionários. Como se não bastasse, ainda subcontrata serviços a empresas. Mesmo assim, com esta abundância de recursos, não se consegue manter a cidade limpa e arranjada, o que, porra, é o mínimo.

Está tudo com o cu sentado nas secretárias a dar ordens que sucumbem no base da hierarquia com um liminar “ai, não posso”, ora porque têm uma tendinite ora porque não está nas suas funções. E fica então tudo nas secretárias a dar ordens, nem que seja à impressora.

Ali na Avenida da Índia, junto a Alcântara, também podemos encontrar uma espécie de lomba espontânea, um quisto rodoviário que já arremessou pelo menos um motociclista pelos ares. Está ali há meses. Com certeza que o presidente da câmara, os vereadores, os directores municipais e de uma forma geral todas as autoridades camarárias já devem ter mandado com a tola no tejadilho do carro por causa da lomba, mas nenhum pegou no telefone e mandou reparar aquilo. É só preciso mandar reparar. Nem se lhes pede que consertem eles próprios o pavimento, até porque seguramente ficava pior.

A falta de sentido de Estado e de missão é tal, que se comportam como se não fosse nada com eles. Passeiam-se pela cidade que governam como se governassem outra. Provavelmente até vociferam, como qualquer outra pessoa.

Voltando à Ajuda, também lá está um buraco. Um buraco enorme. Tão grande que eu penso que já é possível ver o núcleo da terra. Se cai ali alguém, acorda na Nova Zelândia, o que, bem vistas as coisas, até é convidativo. O buraco está lá há pelo menos 24 meses. Uma pessoa que tivesse feito um contrato com uma operadora de telecomunicações quando o buraco apareceu, hoje já estaria em liberdade.

Enfim, o panorama é este. Sucedem-se incompetentes numa vergonhosa administração da coisa pública que deixa o país apodrecer nas trombas do povo que resta. Felizmente o turismo vai crescendo, porque precisamos de testemunhas. É que há coisas que contadas, ninguém acredita.

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