Quarta-feira, Janeiro 15, 2025
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Opinião: Aquela espécie de pino humano que guarda mesas

NAC_Mercado-da-Ribeira-4056Proliferam os novos mercados com restaurantes e com eles a pulhice de guardar lugares vazios enquanto alguém vai “buscar o comer”. É aquele princípio do “ficas aí a guardar o lugar que eu vou lá buscar”, como se o amigo ou a namorada fosse um pino daqueles da estrada, mas em humano. A felicidade deles quando entram e encontram lugares vagos é tanta que eu julgo que lhes sabe melhor do que a própria refeição. Já nem precisavam de ir buscar alimentos. Era chegar, hastear uma bandeira e tocar um hino.

Mas quão frio precisa de ser um animal para ficar indiferente ao ver outro já com o tabuleiro cheio de papinha a esfriar, desamparado e confuso, com as mãos trémulas do peso do tabuleiro, sem sítio para se sentar? Chegam a guardar quatro, cinco e seis lugares vazios, mesmo com pessoas à volta a desfalecer, desidratadas, que acabam mesmo debaixo dos tabuleiros sem nunca chegar a provar os petiscos.

Ainda assim, graças ao pingo de vergonha que lhes resta, os pinos ficam sempre um bocado desconfortáveis a guardar os lugares enquanto o resto do grupo vai buscar mantimentos. Cruzam a perninha e ficam sentadinhos de ladinho, como quem guarda o lugar mas não guarda. Aquele olhar de carneiro mal morto mas que pode virar lobo se sentir o território ameaçado. Brincam muito com os telefones, nomeadamente para não assistir à tragédia humana que se desenrola à sua volta e por sua culpa. Quando alguém pergunta se os lugares estão ocupados dizem que sim, mas um sim misericordioso e triste, como quem deseja a melhor sorte da vida para aquele pobre diabo de tabuleiro em riste.

Este comportamento vem um bocadinho na senda daqueloutro de ocupar mesas durante largas horas só para beber um café e uma água gaseificada. Antigamente era mesmo só café, mas hoje já pedem uma água com gás para poderem ficar mais um bocadinho, um bocadinho que já lhes daria direito a arguir o usucapião e ficar com o estabelecimento.

Então quando estes dois comportamentos se cruzam é possível ver quatro pessoas a ocupar três mesas e cinco cadeiras só para comer um gelado, enquanto homens, mulheres, crianças e tabuleiros deambulam exaustos pelo food court.

Com a breca, seus pulhas gananciosos: Primeiro recolhe-se os tabuleiros e só depois se procura um lugar. “Mas nós somos quatro.” – Pá, então vão a um rodízio, que lá é que fazem jantares de grupo. Num mercado, com tabuleiros, se há lugares para ficarem todos juntinhos e agarradinhos, óptimo, se não há, então vão conhecer pessoa novas para outra mesa. Até pode ser que encontrem o homem ou a mulher da vida. Ou pelo menos um bom contabilista.

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