Ontem, ao fim do dia, deparo-me com um excerto de uma notícia que dava conta da transmissão, em simultâneo, do frente-a-frente entre os candidatos à presidência do Benfica, nos quatro canais de informação – um debate conduzido também por quatro jornalistas, um por cada canal. Como era um excerto – aquelas imagens que aparecem pela internet -, tive de ir confirmar, porque não estava a conseguir acreditar.
Encontrei, sim, notícias que diziam o mesmo. O frente-a-frente entre os candidatos que passaram à segunda volta nas eleições do Benfica vai mesmo dar em quatro canais de informação, em simultâneo.
Tinha então de passar à segunda verificação de factos, que passa por pedir para me beliscarem. Cada vez uso mais. Há dias, uma das crianças dizia-me “pai, que camisa às riscas tão gira”, mas tive de lhe dizer que estava em tronco nu. Aquilo eram marcas de cada vez que peço à mãe para me beliscar por não acreditar em alguma coisa que se passa no nosso país.
Certo é que haverá um frente-a-frente entre os candidatos ao Benfica, em directo em quatro canais de informação – Sic Notícias, CNN Portugal, RTP Notícias e CMTV – esta quinta-feira, pelas 21:15, durante 70 minutos. Ainda bem que é às nove da noite, porque se fosse às nove da manhã ainda davam tolerância de ponto para se ver o debate entre os candidatos à presidência do Benfica.
Não será obrigatório ver? Eu acho que devia ser obrigatório ver o frente-a-frente! No fim tínhamos de responder a umas dez perguntas. Quem chumbasse perdia a nacionalidade. Acho que era o mínimo. E por falar em nacionalidade, vamos voltar ao tema daqueles cartazes provocadores. Naquele que diz “isto não é o Bangladesh”, só o Bangladesh é que se podia ofender. Lá no Bangladesh, tenho a certeza de que há cartazes espalhados a dizer “graças a Deus” e “livra…” e “safa…”.
Quatro canais de informação em simultâneo, a transmitir o mesmo frente-a-frente, sobre umas eleições num clube de futebol que, sim, é muito grande e teve uma votação histórica. Foi incrível. Um adepto do Benfica dizia, no fim do dia das eleições, que estava muito feliz com o facto de terem votado 85 milhões de benfiquistas. Corrigiram-no, mas o tempo dar-lhe-á razão.
Então e quatro jornalistas para dois candidatos à liderança do Benfica? Será que conseguem? Não era melhor irem oito? E falamos de candidatos que estão há dois meses em entrevistas televisivas quase diárias, de outro modo talvez fosse necessário recorrer a uma requisição civil de todos os cidadãos com carteira de jornalista. Nestas últimas semanas, até as autárquicas andaram em segundo plano.
Mas o que falta dizer sobre as propostas destes candidatos? Perante toda esta instabilidade atmosférica, eu, se fosse um dos jornalistas, perguntava-lhes pelo tempo. “Então e este tempo? Têm dois minutos cada um.”
Isto não é Bangladesh, não. Ainda bem para o Bangladesh.
[Crónica publicada originalmente na newsletter Agora a Sério, disponível AQUI.]


