Numa altura em que se discute novas edições de grandes obras já sem algumas passagens consideradas ofensivas, saiba que a literatura portuguesa também se está a adaptar aos tempos modernos.
Uma das primeiras novidades é que Eça de Queiroz passa a ser Eça/Aquela de Queiroz. “É uma grande mudança, que abre também o debate em torno da escolha dos pronomes demonstrativos, pois estávamos virados apenas para os pessoais”, esclarece ele/o fulano. “O Eça/Aquela de Queiroz tinha de ser ‘pioneire’ nesta transformação”, acrescenta.
Mas há mais novidades. Os Lusíadas passam a ser apenas Lusíades e perdem um pouco do tom epopeico. “Continuará a encontrar-se alguma glória, com certeza que sim, mas agora também há excessos e abusos inadmissíveis”, adianta Simplício, que passou as últimas duas semanas a corrigir a obra de Camões.
Em matéria de ofensas, o Manifesto Anti-Dantas foi o mais alterado. Desde logo, desaparece “morra o Dantas, morra! Pim!”, passando a encontrar-se “há espaço para todos, há! Pim!”. Pela primeira vez, espera-se que futuristas possam conviver pacificamente com correntes mais retrógradas.
Serão muitas as mudanças nos próximos tempos. Até a grande obra Cozinha Tradicional Portuguesa, de Maria de Lurdes Modesto, sofrerá algumas modificações. “O caldo verde passa a ter caldo de galinha porque saiu assim no New York Times”, adianta fonte da editora.