Está a pensar ir até Nova Iorque? É bem pensado. Vale a pena. Nova Iorque continua a ser um destino muito interessante, vibrante, quase parece a avenida José Malhoa, em Lisboa, com aqueles arranha-céus todos. Aliás, se ainda não é a melhor altura – financeiramente falando – para ir mesmo até Nova Iorque, pode sempre subir a José Malhoa e depois ir até ao Central Park, ou melhor, até aos novos jardins da Praça de Espanha, que não lhe ficam atrás. Depois, quando for mais conveniente, lá vai mesmo até Nova Iorque. E se calhar, nessa altura, vai dizer que não valia a pena. Só pela Estátua da Liberdade, mas para isso também se vai ver o Gulbenkian no seu jardim.
Mas nós, por agora, vamos mesmo até Nova Iorque. Este é o guia mais actualizado. Se procura resposta para o tema do visto para viajar para os EUA, saiba que Portugal está entre os países com acordo ESTA (Electronic System for Travel Authorization), pelo menos por enquanto – pois, porque as coisas estão a mudar um bocado -, um sistema bastante prático que deve consultar nesta página oficial. Cuidado com as pesquisas no Google, porque há interessados em “ajudar” a tratar desta papelada, mas não é preciso ajuda. É muito simples.
Começamos então pela passagem aérea. Pode escolher a TAP, sim, mas aviso já que a transportadora aérea nacional está com uns aviões muito pequenos (os A321neo). Chegam lá, porque são os Long Range, e chegam lá bem, mas para viagens de oito horas é um bocado pequeno. É como ir de Smart até Berlim. Em primeira classe não se vai queixar, claro, mas noutra qualquer já pode ganir. Quando comentei com um comandante amigo, por mensagem e já no avião, que estava num A321 para Nova Iorque, perguntou-me se não havia comboio.
Há mais companhias a fazer esta rota, nomeadamente companhias norte-americanas, e essas já usam uns aviões mais transatlânticos, digamos assim. Faz sentido. O A321neo LR é um excelente avião, atenção, mas aquele pé direito tão baixo, durante tantas horas, incomoda. Por outro lado, a TAP também cancela voos e muda os planos para ter sempre a aeronave à pinha. Assim umas semanas antes, se vê que estão três voos mais ou menos, cancela um e ficam dois a fazer lembrar a ferrovia na Índia.
Adiante. Já em Newark – no nosso caso foi Newark -, prepare-se. Pode ter duas horas de fila, em pé, até aos passaportes. Então agora, com a nova Administração, querem mesmo ter a certeza de que a viagem não é nem em turismo nem em negócios, mas sim em imigração ilegal, pelo que demoram a confirmar tudo. Duas horas em pé depois de oito horas sentado baralha o organismo e é de se pensar em voltar para dentro do avião, que ainda lá está, a olhar para nós. Por falar nisso, ainda sobre tamanhos, neste exacto momento chega um 747 da Lufthansa e fica mesmo ao lado do nosso pequenino A321, que parecia de brincar. Foi um pouco humilhante, mas eu comecei a falar alemão. Até hoje, só o senhor dos passaportes percebeu que eu não era mesmo alemão.
Já dentro dos Estados Unidos da América e já com a bagagem – se ninguém a tiver levado, claro, cuidado com os deputados que iam no voo – pode optar pelo transporte ferroviário até Manhattan. Funciona, é prático e económico. Há um comboio interno do aeroporto até à estação e depois mais do que uma ligação até à Penn Station, que é onde se quer chegar. A viagem demorará entre 30 a 45 minutos. De carro teria levado o mesmo tempo, mas mais alguns dólares. No regresso de Manhattan para Newark, como era tarde e tínhamos uma viagem pela frente, optei por um black SUV e senti-me a Taylor Swift, pois senti, mas quando saí, depois de pagar, era a Ruth Marlene. Não desfazendo.
Vamos começar por aí. Como deslocar-se em Nova Iorque? Prefira o metro, o MTA. Parece confuso, mas lá para o final da viagem já terá percebido como funciona. Pode pagar com o smartphone (quase sempre) e o metro é mais barato, mais rápido e muito mais divertido, porque está ali tudo, desde o louco que está a comer pizza e a chamar nomes aleatoriamente às pessoas até ao financeiro de Wall Street. Uber evito sempre, em qualquer cidade do mundo, sobretudo com a nova moda de aceitar viagens e depois não se mexerem, na esperança de que cancelemos a viagem e não reclamemos o valor cobrado. Peça sempre a taxa de volta, reclamando e explicando que o motorista não apareceu. A escolher o automóvel, então é melhor o tradicional táxi, sendo certo que também se apanham uns motoristas avariados e, avariado por avariado, mais vale no Metro, pelo menos não vão a conduzir. Claro que há sempre o black SUV, mas isso, pronto, não fica barato.
De deslocações, estamos tratados. Mas para onde? Manhattan está muito bem organizada. Por isso nem precisaram de fazer rotundas. Quando se olha de baixo para cima, temos Lower Manhattan (Wall Street, por exemplo, Chinatown, Little Italy, Tribeca e a Kat’z), depois vamos subindo, passamos pelo Soho, por Chelsea (onde se deve ir ao mercado comer), chegamos a Midtown Manhattan (Rockefeller, Times Square) e Upper Manhattan (Harlem, dá para ir ouvir gospel). Entretanto, a Quinta Avenida divide a ilha, para a esquerda é West Side, para a direita East Side. Não podia ser mais simples. O ideal é dividir por dias e bater cada zona. Por falar nisso, quanto a deslocações, esqueci-me de referir os próprios pés, que ainda é o mais barato e o que permite ver mais coisas. Em Nova Iorque é mesmo para andar muito. A boa notícia é que custa menos ir a pé de Brooklyn (que também merece a visita e está longe de ser por causa da famosa ponte) até ao Bronx (mais para quem gosta de animação e neste caso pode não ser tanto andar a pé, mas mais correr) do que custa subir do Terreiro do Paço ao Chiado.
Nesta fase, se estava a planear a primeira visita a Nova Iorque, mais concretamente a Manhattan, já percebeu como funciona. É muito simples. A estrutura da cidade é mesmo muito simples. Depois, mais touro de Wall Street (Lower Manhattan), mais Met (Midtown), mais barquinho para ir ver a Estátua da Liberdade (Lower Manhattan) ou mais missa no Harlem com gospel (Upper Manhattan), isso já depende do gosto de cada um. Claro que nem sempre é só gosto. Na primeira visita, há coisas incontornáveis. Por mais que se odeie o turismo típico, há coisas que têm de ser vistas, mesmo que seja de passagem. Como se fosse picar o ponto. Fazer vida como local pode ser ao fim de alguns dias na primeira visita, ou então, com mais segurança e sobretudo confiança, numa segunda visita.
No conjunto das atracções turísticas estão também os teatro da Broadway, claro. Uns mais turísticos, outros menos. É preciso estudar o assunto. Por falar nisso, a Broadway é conhecida pelos teatros mas começa lá em baixo, em Bowling Green, na zona financeira mas também onde se apanham os barcos para ver a Estátua da Liberdade de perto, e vai até ao Bronx. Já não vai mesmo, porque entretanto está muito cortada, nomeadamente na zona de Times Square, onde também são os teatros. Esta avenida é anterior ao actual traçado da cidade. Mas a Broadway tem 53 km, sendo por isso quase tão grande quanto a avenida da Boavista, no Porto.
E não é preciso dizer muito mais. Isto já está aqui um guia essencial para Nova Iorque. Não há muita simpatia na cidade, mas isso, para quem já passou férias no Algarve, nem nota. Aliás, ao pé do Algarve, em Nova Iorque são amorosos. Isto com todo o respeito, porque eu continuo a preferir o Algarve. Mas voltando aos EUA, são tão antipáticos que tiveram de pôr as gorjetas obrigatórias. Ou quase. Quem não gosta de deixar qualquer coisinha no fim de qualquer coisinha (ou melhor, de tudo), então é melhor escolher outras paragens. Na Ásia, com sorte, até recusam. Talvez seja melhor destino para os forretas.
Mas a antipatia nova-iorquina faz parte. Também é atracção turística. A minha recomendação, para quem fica triste quando não vê simpatia, é vestir também aquele individualismo todo, meter os headphones e fingir que está no seu mundo, no meio daquele mundo enorme. Há união, mas cada um na sua. É como uma cidade deve ser. Não são defeitos, são características. Quem não gosta de cidades, faça um safári.
Uma última sugestão, mas talvez a mais importante. Opte por visitar Nova Iorque fora dos períodos de férias. Há turismo em Nova Iorque o ano inteiro, sim, mas há alturas mais calmas, em que se pode ver a cidade como ela é – aquela ideia de estar como os locais, ver a cidade a trabalhar, as escolas, ou seja, um típico dia nova-iorquino – e não há filas nas atracções do costume.