Depois de muitas sondagens, todas a dar a vitória a Gouveia e Melo, lá se conseguiu uma em que o Almirante sai derrotado. Num confronto directo com Eça de Queiroz, cuja popularidade tem aumentado desde que foi trasladado para o Panteão Nacional, o Almirante perdia à primeira volta.
O escritor, que morreu em 1900, recolhia assim 83% das intenções de voto. Em causa, para este resultado e segundo os especialistas, está o facto de Eça de Queiroz ser um crítico muito duro e sarcástico do país, algo que agrada aos eleitores, que também não podem com isto.
Agora, a família, que já se desentendeu quanto à trasladação do corpo de Baião para Lisboa, terá de decidir se candidata ou não o antepassado a Belém.
“Há uma forte possibilidade de o Panteão Nacional não ser ainda a última morada de Eça de Queiroz”, explica Simplício, “se o puserem na corrida à presidência e ganhar, será então trasladado para o Palácio de Belém”. Segundo este analista político, para além das críticas do escritor ao país, há outra vantagem numa candidatura do génio da escrita.
“Os portugueses vêm de 10 anos de uma presidência muito agitada, a de Marcelo Rebelo de Sousa, pelo que devem privilegiar agora um candidato mais discreto e eu creio que não haverá presidência mais discreta do que a de Eça de Queiroz, que está morto há mais de um século”, conclui, “talvez a presidência de Cavaco tenha conseguido ser ainda mais discreta, agora que penso nisso”.
Entretanto, perante estas notícias, o Almirante correu para um bar em Lisboa para reunir com Nuno Melo, ministro da Defesa. Depois deste encontro, foram até ao Panteão Nacional e levaram dali Eça de Queiroz. Pelo menos era o que pensavam, porque mais tarde, já em casa, Nuno Melo percebeu que tinham trazido Amália Rodrigues.
“Estava muito escuro, não vimos bem”, tenta justificar o ministro da Defesa, ao telefone com o Almirante, “mas eu vou lá pô-la, não precisa de se incomodar”.