Segunda-feira, Março 17, 2025
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Fazem o que querem

A revolta tem de ser popular, transversal, para que eles acordem e tenham medo do povo, medo de o enganar ou de simplesmente o desiludir. Um receio que há muitos anos ninguém no poder sente.

Tenho andado a pensar sobre o tema e cheguei à conclusão, enfim, de que a solução para a nossa crise interna pode estar na despensa. Ou na cozinha. Dito assim, esta tese parece não encontrar sustentação na ciência política, mas falo do instrumento fundamental do poder, nas suas mais diversas dimensões, que é o medo. E o medo também nas suas mais diversas formas, intimidação, coacção, força ou violência. É dele que resulta o poder, qualquer poder, legítimo ou ilegítimo. Sendo que esta legitimidade também resulta de uma autoridade que existe pelo poder e assim sucessivamente.

Num confronto de poderes, vencerá aquele que, naquele momento, conseguir exercer a coacção de forma mais eficaz. O povo unido é mais forte do que o governo, mas o poder político tem as armas, a polícia e o exército, que usará para o reprimir ao primeiro laivo de insurreição. Em Abril de 1974, este ordem alterou-se, com os militares, mais tarde apoiados pelo povo, a confrontar um poder que passou em poucas horas a não valer nada, despojado da sua capacidade coerciva.

O poder transferia-se então, transitoriamente, para os militares, que exerceram a autoridade de forma directa, já sem o vínculo hierárquico que os liga sempre ao poder político – quando os regimes não são militares -, vindo a ser devolvido ao povo e depois novamente ao poder político, já num novo quadro constitucional, com novas regras. Mas o poder é, como se constata, móvel. Segue a força e quem a detém, independentemente da legitimidade, sempre adquirível.

Ora, não posso – e também não queria – defender a violência. Nem devo – e também não queria, apesar de estar sempre disponível – sugerir golpes de Estado. Lembrei-me, então, da despensa, onde se guardam ovos e ingredientes para fazer uma tarte. Mas esta não é para comer, não precisamos que fique com bom sabor, só precisamos da consistência, porque é para a atirar à cara do poder. É preciso começar a meter-lhes medo, ou seja, a exercer o poder, um poder que não se pode manifestar apenas em eleições, mas em permanência.

Esta gente que está na política faz o que quer, com a bênção de um povo sereno que come e cala. Mas é demais. Por respeito aos nossos filhos e aos nossos netos – mas também por respeito e orgulho próprios -, é preciso começar a resistir. Enquanto eles – sim, “eles”, generalizar, agora parece que também não se pode, mas não dá para ir um a um, é uma pena – enquanto eles brincam, há um país que definha. Há um povo pobre, miserável, sem passado nem futuro. Um país deprimido. Há empresas que fecham, negócios que não se sustentam. Portugal é um país para passar férias, exílio voluntário de todo o mundo, bom para se viver desde que não se tenha nascido aqui. E eles brincam, agora é às moções e às eleições.

A crónica segue em agoraaserio.substack.com/p/fazem-o-que-querem

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