Numa altura em que se discute a crise na habitação, a Associação Portuguesa de Fantasmas veio lembrar que há casas que parecem vazias mas não estão. “Livrem-se de reabilitar isto”, ameaça Simplííííííícia, presidente da APF, ela própria uma assombração, a morar há 235 anos numa casa só aparentemente devoluta.
“Bato três vezes na porta da cave, todos os dias à mesma hora, e ouve-se alguém a tocar piano de vez em quando, mas isso é outro fantasma que mora comigo, juntámo-nos porque eu tinha medo de morar sozinha”, explica esta fantasma, na esperança de que estes hábitos cheguem para provar a utilização do imóvel.
“Eu não posso fazer contratos de luz e água, porque numa ocasião fui a uma Loja do Cidadão e nem consegui tirar senha porque o ecrã agora é touch”, lamenta, “isto para não dizer que, quando me estão a atender, as outras pessoas pensam que a funcionária não está a atender ninguém, porque não me vêem, gera-se com cada discussão… tem de vir o segurança”.
Certo é que as medidas que têm vindo a ser discutidas assustam os fantasmas, que já realizaram, no fim-de-semana passado, uma manifestação em Lisboa para pedir que a aposta seja em mais construção, jamais reabilitação. A manifestação não tinha aparentemente ninguém, mas o sindicato garante que apareceram milhares.
“É muito injusto estarmos aqui mais de 100 mil, entre fantasmas, vultos e assombrações, mas não se ver ninguém,”, desabafa Armééénioooo, garantindo que não é por isso que vão deixar de lutar.
“Estamos aqui pelo problema da habitação, pois agora dizem que as nossas casas estão devolutas, mas também pelos efeitos da inflação no rendimento dos fantasmas”, explica, “já está a ser muito difícil assombrar, há fantasmas que têm de entregar Uber Eats para ajudar com as contas, mas as pessoas quando vêem uma mochila a tocar à porta, sem ninguém, perdem o apetite e dão má pontuação.”