Terça-feira, Outubro 15, 2024
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A nossa “invasão” do Parlamento

Primeiro foi a invasão do Capitólio, nos Estados Unidos, a 6 de Janeiro de 2021. Depois foi a invasão do Senado brasileiro, dois dias e dois anos depois, a 8 de Janeiro de 2023. Por fim, a invasão do Parlamento português, agora a dia 26 de Abril de 2023.

Foi também nesse dia que um adjunto do ministério das Infraestruturas acabado de exonerar arremessou um velocípede contra o edifício, tentando escapar com um computador que viria mais tarde a ser resgatado por agentes secretos que tiveram de o abordar com coletes anti-soluções de mobilidade. Bicicleta ele já não tinha, mas as autoridades não sabiam se o indivíduo não estaria na posse de uma trotinete.

Este 26 de Abril tem de ser estudado, porque parecia estar tudo possuído. Um youtuber entrou no Parlamento, um adjunto só queria sair do ministério. Depois do “25 de Abril, sempre!”, temos agora o “26 de Abril, nunca mais!”.

Regressando às invasões de órgão de soberania, ao contrário das que tiveram lugar nos Estados Unidos e no Brasil, na nossa não foi preciso uma multidão em fúria invadir à força a Assembleia da República. Não, por cá agendou-se com um partido, que até fez uma visita guiada ao espaço. Isto são invasões com maneiras, organizadas, típicas de um países de primeiro mundo, não desfazendo nos outros dois, claro.

Não é novidade que somos bons a organizar eventos. A Expo98, o Euro2004, a WebSummit todos os anos e dentro de poucos dias as Jornadas Mundiais da Juventude, que nesta edição vão ter um palco que poderá vir a ser utilizado, mais tarde, como novo aeroporto de Lisboa.

Claro que na nossa invasão ao Parlamento também conseguimos fazer algo de especial, sem precisarmos de abdicar de nada, desde a profanação de locais sagrados até aos insultos mais básicos. Só por causa da antiguidade do edifício e também porque a Iniciativa Liberal tem poucos deputados para as visitas guiadas, não foi possível convidar uma multidão de bárbaros em fúria. Mas se há partido que sabe fazer muito com pouco, esse partido é a Iniciativa Liberal, que rapidamente concluiu que um só youtuber equivale a uma multidão de bárbaros em fúria.

E assim foi. O youtuber andou pelos gabinetes, pelo hemiciclo, por onde quis, tendo subido ao púlpito para mandar o primeiro-ministro para um local inóspito, que não sei se o Falcon tem autonomia para lá chegar. O deputado da Iniciativa Liberal só lhe pediu uma coisa: “Podes fazer tudo, menos mostrar o cu aqui”. Não eras assim tão liberal e julgavas que sim. A República tem um seio à mostra, por que raio o youtuber não pode mostrar o cu?

Enfim, talvez a única diferença, para as invasões nas Américas, foi não se ter visto outros parlamentares a fugir em pânico, mas porque aparentemente não estava ninguém no Parlamento. Ah, já sei. É porque era dia 26 de Abril, que será com certeza feriado e em São Bento são todos visionários.

 

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