Terça-feira, Março 25, 2025
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A ingratidão europeia

Presidente Trump, muito obrigado. E obrigado também ao seu vice-presidente. Só tenho a agradecer. Não me lembro de ver a Europa assim unida. Nem sequer me lembro de a ver assim acordada.

Tinha prometido, por isso vou mesmo ao encontro de Zelensky com Donald Trump, na Casa Branca. Parece que já foi há uma década, graças à velocidade que os acontecimentos levam, mas não foi assim há tanto tempo e por aqui não gostamos de comentários instantâneos. Os escândalos precisam de maturação. Devem ser deixados uns dias em atmosfera protegida.

Há outra vantagem em voltar agora a Washington. É que deixamos, por momentos, Portugal e a sua crise, passe o pleonasmo. É que Portugal é uma crise. Não está a atravessar mais uma. Portugal é a própria da crise. Esta crise que é Portugal atravessa é, às vezes, bonanças e fortunas. Não sei se me faço entender, mas temos de ver o caso assim. “Mais uma crise” – tenho ouvido. Qual quê!? Não é mais uma crise, é a mesma de sempre. Devemos é gritar, quando se justifica – é muito raro, acontece talvez de cinco em cinco gerações -, “olha uma bonança”.

Mas deixemos Portugal, que está então na tal atmosfera protegida, a maturar, a infiltrar tudo isto, estas notícias, os casos, as moções, os avisos, as ameaças, tudo. Espreito só, para não deixar entrar muita luz, e ali está Portugal, com aquele marmoreado a formar-se. Vamos deixar mais um pouco.

Washington! Acho que foram todos muito injustos com o presidente norte-americano. É a sorte de ter deixado a caravana passar. Daqui consigo ver como foram injustos com Trump e com o seu vice-presidente. Quero aliás, se alguém na administração norte-americana me estiver a ler, apresentar as minhas desculpas pela forma deselegante com que foram tratados pelo mundo. E se me disserem que não tenho procuração do mundo para falar em seu nome, tenho. Posso enviar, mas o ficheiro é pesado porque são muitas assinaturas.

Presidente Trump, muito obrigado. E obrigado também ao seu vice-presidente. Só tenho a agradecer. Não me lembro de ver a Europa assim unida. Nem sequer me lembro de a ver assim acordada. A Europa está viva e é graças ao que ali fizeram, naquele dia que fica na história. Na vossa não vai aparecer bem, mas isso só prova o vosso altruísmo. Não pensaram primeiro em vocês, mas na Humanidade. E ninguém foi capaz de o reconhecer.

Tenho de admitir que, quando vi aquelas imagens na Sala Oval, vacilei. Tive de pedir para me beliscarem, pois não estava a acreditar no que estava a ver. Cheguei a condenar aquela atitude. Lamento ter duvidado, mas acabo por estar um pouco influenciado pela mainstream media – situação que já regularizei, tendo passado a acompanhar apenas os órgãos de informação adeptos do free speech.

Trump prometeu tornar a América grande outra vez, mas começou pela Europa, algo que posso associar às dificuldades que alguns norte-americanos sentem ao nível da geografia, mas creio que não. Acredito que foi pensado e deliberado. Foi dar a mão à Europa, como há muito ninguém dava. Mas calma. Antes que alguém se atreva a questionar o patriotismo deste par de filantropos, quero dizer que o gesto generoso também valeu para os Estados Unidos da América. Muitos norte-americanos, entre os que votaram Trump, perceberam naquele momento o que fizeram. Não me recordo deste nível de honestidade num político. Sinceramente, não me recordo. E o presidente Trump até chegou a dizer, a meio daquele espectáculo lindíssimo, “eu deixei que isto continuasse para que as pessoas percebessem”. Sim, os norte-americanos perceberam. Talvez nem todos, claro, mas muitos perceberam. Ficaram para morrer, mas perceberam. E é tão bom perceber. Aquela sensação quando uma pessoa percebe. É uma mistura de alívio com orgulho. E vontade de recuar no tempo, mas isso agora não interessa.

Aqui chegados, podíamos estar a falar de um momento histórico apenas para a Europa e para os Estados Unidos, mas não. Também foi extraordinário para o próprio Zelensky, que ali naquela situação pensou que estava apenas a ser cobardemente encurralado. São coisas do momento, não conseguimos pensar bem. O vice-presidente bem perguntou se ele já tinha agradecido. Ele ainda nem sequer tinha percebido, caro JD Vance. Se fosse hoje, com o que se sabe, nem era agradecer-vos, tinha-vos levado um leitão do Mugasa. Ainda chegava quente. Isto porque, beijar na boca, no plano diplomático, não é aconselhável. É verdade que não havia ali diplomacia alguma, mas insisto: Presidente e vice-presidente, ao não se preocuparem em ficar bem na fotografia, antes pelo contrário, levaram muita gente ao engano. É o preço da humildade.

Crónica continua na newsletter Agora a Sério, em agoraaserio.substack.com/p/a-ingratidao-europeia

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