Arrancou hoje o debate parlamentar do programa do Governo, um calhamaço com 250 páginas e capa colorida. E é mesmo por aqui que começamos, porque a grande marca deste executivo – quem o diz é o próprio executivo – é então a agenda transformadora, mais concretamente a reforma do Estado. O que ocorrer primeiro. A transformação ou a reforma.
Já aqui manifestei algumas dúvidas em relação ao sucesso desta missão, não tanto – aliás, nada – pela qualidade da equipa que foi escolhida, mas porque uma andorinha não faz a Primavera e um ministério também não reforma um Estado que não se queira reformar. O primeiro-ministro fala em ímpeto reformista, mas não dá grande sinais disso e palavras leva-as o vento.
Um governo reformista, em teoria, não apresenta um programa de 250 páginas e muito menos estoira vários tinteiros para apresentar uma capa colorida, como se fosse um trabalho da escola. Toda a capa é num azul lindíssimo, um azul meia-noite, depois de lado temos a bandeira. E pronto, lá se foram uns milhões do PRR em tinteiros. Só quem não compra tinteiros com o próprio dinheiro faz uma coisa daquelas. Está ali uma fortuna e devem ter feito centenas de exemplares. Em cada página há uma bandeirinha portuguesa – o símbolo do Governo. Mais uma vez: Só quem não paga tinteiros faz aquilo.
Onde está o ímpeto reformista? Só faltava o ministro dos Assuntos Parlamentares ter ido levar o calhamaço a cavalo. Toda a cerimónia é do século passado – literalmente falando, pois já se fazia em 76.
Um governo reformista, em teoria, é mais objectivo, sintético e consegue produzir um documento digital, mais fácil de consultar. De consultar e de encontrar também, porque demorei alguns minutos a dar com o pdf. Foi através da página do Parlamento que encontrei um link, que me levou a outra página, que me levou ainda a outra e então lá estava aquilo que parecia ser o documento para descarregar. E era mesmo.
Isto é tudo do século passado, caro e muito pouco eficaz. Calhamaços, fotocópias, argolas, impressões a cores, um pdf algures para descarregar… Como é que falamos de ímpeto reformista? Não é que o programa do Governo seja assim tão importante, materialmente falando, mas é de sinais que falamos e foi o Luís que falou em ímpeto reformista. Ora, um ímpeto, para mim, é um ímpeto. Mais do que mero espírito ou simples vontade, é um impulso arrebatado e arrebatador. É algo incontrolável, que leva tudo à frente. O ímpeto reformista não resiste a 250 páginas, impressões a cores e argolas. Sucumbe diante de tal ideia.
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