Pela primeira vez em cinco anos, Portugal não venceu o campeonato europeu de futebol. Uma grande desilusão, sobretudo para a família do seleccionador nacional, que o viu regressar mais cedo a casa e controlar, como sempre, o comando da televisão. Se os portugueses ficaram tristes ao ver Portugal cair diante da Bélgica, imaginem os Santos.
Acontece que Portugal não venceu a competição, é verdade, mas mudou-a para sempre. Fomos nós que mostrámos ao mundo que é possível ganhar sem vencer, a magia do empate, naquilo que se pode considerar o maior fair play da história das competições desportivas. Porque muita gente anda a dizer que a Itália venceu a Inglaterra, mas é falso. Empataram, como Portugal demonstrou que era possível.
Não temos que ser melhores do que os outros, nem marcar mais golos. Podemos marcar os mesmos. Ou não marcar, se eles também tiverem a gentileza de não nos marcar a nós. Com que lata é que eu, depois de 60, 70 ou 80 divertidos minutos a jogar à bola, vou lá à frente e faço um golo, com a minha própria baliza ainda virgem!? Pode acontecer, não digo que não, mas tem de ser um acidente.
Foi isto que Portugal levou para as competições desportivas em 2016: uma nova forma de encarar o desporto e as competições. Ganhar sem ser preciso vencer ou derrotar os adversários. Empatar com eles. A igualdade.
Este domingo à noite, Portugal não estava em campo, mas ao mesmo tempo estava. Inglaterra, numa desatenção, marca um golo. Foram os nervos. A Itália percebeu e lá acabaria por conseguir retribuir. Lindíssimo. Ainda nos lembramos todos de partidas de futebol com três a zero e às vezes diferenças maiores. Então e quando uma equipa marcava um e depois levava com três seguidos? Eram ressabiados e vingativos.
Portugal mudou o desporto para sempre. Mesmo na Fórmula 1, Hamilton levantou o pé. Quando ia à frente não conseguia ver Verstappen a correr. Conseguia pelo espelho mas depois entrava nas boxes por engano.
Neste Euro2020, sucederam-se os empates e foi com um empate que terminou. Portugal venceu outra vez, desta vez não apenas sem ter de ganhar, mas sem sequer ir a jogo.