Sei que vou remar contra a maré, mas devo admitir que considero que os gestores dos bancos até ganham pouco. Os salários na Caixa, por exemplo, são uma vergonha, sim, mas por serem tão baixos. Na minha cabeça, para admitir a hipótese de um homem receber meio milhão de euros por ano para gerir a Caixa, tenho de acreditar que uma parte é voluntariado.
Mas revoltam-me sobretudo as críticas quando tenho em consideração o que os bancos fizeram nos últimos anos pela economia e pelo país. Se não fossem os bancos, hoje os portugueses podiam ter dinheiro no bolso e toda a gente sabe o que o dinheiro faz às pessoas. Veja-se o caso daquelas pessoas que ganham lotarias. Ficam cheias de dinheiro, sim, mas perdem os seus amigos e às vezes até a família.
Graças aos bancos, os portugueses não têm dinheiro, o que resolve os seus problemas financeiros. Não existindo, o dinheiro deixa de ser um problema nas suas vidas. Por outro lado, graças aos bancos, os portugueses são hoje um povo mais unido e solidário. Os filhos regressaram para casa dos pais ou vice-versa. Partilha-se comida e fazemos programas juntos, nomeadamente de procura de emprego.
Aos responsáveis pelo melhor que aconteceu a Portugal no último século querem pagar com lentilhas? É isso? E o outro, só porque é de um banco público, deve receber menos? Sucede que, se recebesse menos, podia aparecer um nabo que, na volta, ainda falia o banco. Foi graças a remunerações justas – eu acho que deviam receber muito mais – que os bancos tiveram à sua frente os maiores carolas do mercado, com os estupendos resultados que se conhecem.
Por outro lado, quanto recebe um bom cirurgião? Muitos milhares de euros, não é? E ninguém diz nada. Já os banqueiros, que nos últimos anos arrancaram 20 milhões de rins aos portugueses e já puseram os rins das próximas gerações na marquesa, esses pelos vistos deviam receber senhas de almoço.
Termino naturalmente com um agradecimento a todos os administradores dos bancos, por continuarem a trabalhar abnegadamente, recebendo valores simbólicos e tendo ainda de ouvir tantas críticas. Obrigado.
