Sobre a bronca com o José Cid, ocorre-me uma questão: Nunca disseram merda? Não é disparates. Não é asneiras. Não é incorrecções. Não é dislates. Não é indelicadezas. É merda, mesmo merda. Nunca disseram mesmo merda da grossa? Daquelas que uma pessoa logo a seguir pensa “olha que merda tão grande que eu fui dizer”.
Pronto, José Cid disse merda da grossa. Desta que uma pessoa pensa “olha que merda tão grande que eu fui dizer”. Disse-a há alguns anos, mas para o caso também é um bocado indiferente, pois Cid proferiu merda intemporal. Aliás, a merda é por definição intemporal. Quando se diz merda, é merda para sempre e já era merda antes mesmo de nós a dizermos.
No seu íntimo, José Cid até pode não gostar de transmontamos – não acredito, mas até podia não gostar. É um direito. Eu não simpatizo com pessoas que moram no Algarve, por exemplo. Mas no meu caso é só por inveja pura. Odeio-os. Também são uns desdentados. Onde é que já se viu habitar um lugar daqueles.
Mas ainda que Cid não simpatizasse com transmontanos, aquilo que disse sobre eles, naquele contexto, seria sempre liminarmente merda, sem significado. Aquilo que em ciência se chama merda pura.
Mas querem dar-lhe cabo do canastro? Por favor, não se prendam. Desde que não me matem o António Zambujo, podem executar o Cid. Mas não se esqueçam de uma coisa: Trás-os-Montes vai vingar-se de uma pequenina merda. Depois de uma história brava, vai acabar a liquidar um músico que disse uma merda num dia de merda.
E depois há outra questão. O mundo debate-se hoje em dia com o problema do terrorismo e não consegue explicação para os que matam por uma religião ou por um apelativo pacote de virgens. Agora imaginem como é que o mundo, que não consegue explicação para o terrorismo, vai conseguir explicação para pessoas que querem bater num pobre diabo que disse uma merda. Lamento, mas consigo perceber mais facilmente quem anda de espingarda a lutar por um califado, do que aquele que quer sovar um idoso que deixou escapar uma merda.
Não estive em Trás-os-Montes assim tantas vezes. Vou lá em breve. Seja como for, sei que gosto muito daquela região e que se tivesse ouvido José Cid dizer aquela merda em directo, era o José Cid que ficava mal na fotografia. Nunca se viu alguém dizer merda e sair por cima.