É já na próxima quarta-feira, dia 3 de Julho, que a comissão parlamentar de inquérito ao caso das gémeas ouve o filho do Presidente da República. Está tudo errado nesta história, até o nome. “Caso das gémeas” parece o título de um filme para adultos, sobretudo a avaliar pela postura de alguns parlamentares, que parecem estar no Cinebolso. “Cunhados”, “Farmácia Sousa” ou “SNS31” teria sido a escolha de quem designa as grandes operações da Justiça.
Adiante, o Dr. Nuno está no Brasil e portanto entrará por videoconferência. Confesso que fiquei aliviado com esta notícia, tudo porque cheguei a temer que os deputados inventassem uma forma de ir lá eles, alegando que tinham mesmo de ouvir o Dr. Nuno presencialmente e ficar depois uns dias, junto ao mar, a pensar no que tinham ouvido. Ser por videoconferência não é nada mau.
Entretanto, por ser arguido, o filho do Presidente da República já disse que não vai responder a nada. Ou seja, se cumprir a promessa, nem sequer vamos ficar a saber se ele nos está a ouvir bem, depois de o presidente da comissão lhe perguntar pela qualidade da ligação. Mas o problema é o pai – o Presidente – que sempre disse que o silêncio é uma forma de falar. Se citarem este princípio de Marcelo, durante a audição, o filho responde a tudo sem dizer uma palavra.
Por esta mesma razão, eu teria optado por outra estratégia. Estaria, apesar do meu estatuto de arguido, disponível para responder a todas as questões daquele Tribunal da Kidzania que é esta comissão parlamentar de inquérito. No entanto, por estar há muitos anos no Brasil, não havia de perceber uma única questão. “Aí, eu queria responder, mas não estou entendendo nada do que vocês estão falando, vocês falam muito depressa…”, qualquer coisa deste género. “Oi? Como é que é? Não estou entendendo”, e assim sucessivamente. Há ainda uma outra estratégia, mas já lá vamos.
Antes, sobre as perguntas dos deputados, estou convencido que muitos vão aproveitar para pedir a marcação de uma consulta ao Dr. Nuno. Estão ali para apurar a verdade, sim, mas se conseguirem finalmente operar a hérnia também não se perdia nada. “Dr. Nuno, muito boa tarde, obrigado pela sua disponibilidade para não responder a nada, eu queria perguntar-lhe, em primeiro lugar, se conhece algum alergologista no Santa Maria, porque eu ando todo apanhado…”, começa por interrogar um parlamentar.
A verdade é que o Parlamento tem estado ocupado em saber o que se passou neste caso, ignorando que a solução para as listas de espera pode estar no filho do Chefe de Estado. Quando eu soube da demissão do CEO do SNS, pensei logo que iam escolher o Dr. Nuno. Era a escolha óbvia, por isso não a fizeram, claro.
Por fim, vamos então àquela que teria sido a melhor estratégia de defesa para este samaritano. É do conhecimento público que o pai – o Presidente da República – cortou relações com o filho – o Dr. Nuno. E assim, perdido por cem, perdido por mil. Eu virava a história e acusava o Chefe de Estado de me ter pedido a mim para lhe arranjar duas gémeas a precisar de um medicamento que ele gostava de dar a alguém. Só para baralhar tudo. Diziam-me que eu é que tinha enviado o primeiro e-mail, mas isso teria resposta fácil, porque toda a gente sabe que o Chefe de Estado é ardiloso.
“O pai liga-me um dia e pede-me para arranjar duas gémeas e enviar-lhe um e-mail a pedir para ver de uma situação”, afirmava em plena comissão parlamentar de inquérito e pronto, estava o caldo entornado. Só para ser uma zanga familiar a sério.