É muito simples. Peço desculpa por começar a nota desta forma pouco elegante, mas isto é para ir directo ao assunto porque temos todos muito que fazer. Se o Governo que fazer sátira, então vem o Governo para aqui e vou eu governar. É muito simples. É uma troca. Não dá é para andarem a fazer o trabalho do Imprensa Falsa, naquilo que considero ser usurpação de funções, mas já passei ao meu advogado, o Dr. Simplício Alves.
Simplificando, a sátira ridiculariza, em tom jocoso ou sarcástico, os vícios, os costumes e os defeitos de uma sociedade. Senhor primeiro-ministro, queira explicar-me como é que eu ridicularizo a situação em que a chefe de gabinete do seu ministro das Infraestruturas levou um soco do ex-adjunto do ministro e seu colega de gabinete? E repare que o ministro trouxe de Singapura, para oferecer ao seu então adjunto, dois socos. Está a ver o meu problema?
Repare também que a chefe de gabinete e as assessores estavam cheias de medo do ex-adjunto, por isso trancaram-no dentro do edifício. É uma espécie de síndrome de Rio de Mouro, em que as vítimas não querem deixar o agressor fugir. Inventar isto era o meu trabalho. O ministro até se quis demitir, mas o senhor primeiro-ministro não deixou, temendo porventura o que o senhor ministro lhe possa ter trazido da viagem à Coreia do Sul. Uma cabeçada, por exemplo. É que ele quando chega das viagens traz imensas sovanirs para distribuir.
Se calhar é preciso regular a actividade e passar a atribuir uma licença de sátira, só para que não possa fazer qualquer pessoa. E a Autoridade da Concorrência tem de andar em cima.
O ex-adjunto foi ontem ao Parlamento, entre outras coisas, porque o SIS lhe tinha ficado com o computador. Então não é que o Parlamento também lhe ficou com o telemóvel!? Mas estamos a brincar!? Este homem é menino para se deslocar às Finanças para liquidar e o IUC e ficar sem o automóvel. Este homem perde tudo em todo o lado, talvez por isso tenha sido exonerado. Levou o telemóvel todo contente para provar o ponto de lhe terem ficado com o computador e zás, também ficou sem o aparelho. Se o fato que levava vestido fosse de marca, o deputado do Chega havia de solicitar uma perícia e depois aparecia nas cerimónias do 10 de Junho com ele. Este pobre homem entrou na audição com o advogado, mas não sei se quando saiu o Dr. Nabais já não estaria a defender o Estado, ficando à guarda de Lacerda Sales.
Será que a sátira precisa de se adaptar aos tempos modernos, pegando nas notícias e conferindo-lhes algum juízo e razoabilidade? Assim como um dia se tirou a cafeína do café, estará na altura de retirar a sátira à sátira?
O Presidente da República, aqui há uns dias, preparava-se para dissolver o Parlamento e convocar eleições antecipadas. Mas optou por ir comer um gelado. É com isto que temos de lidar na redacção. Marcelo convocou então, no dia seguinte, uma declaração solene para as 20 horas, imaginando-se novamente uma possível dissolução do Parlamento e convocação de eleições antecipadas, mas também podiam ser panquecas. Nem uma coisa nem outra, foi apenas para dizer que ia ser ainda mais interventivo, marcando logo ali outra declaração para as 21, outras para as 22, outra para as 23 e assim sucessivamente. Não, pronto, esta última parte já é ficção, mas foi a única sátirazita que se conseguiu produzir nesta nota. Eu sou do tempo em que era sátiras e mais sátiras, até tínhamos de deitar algumas fora porque não conseguíamos dar vazão. Agora consegue-se uma aqui, outra acolá. Precisamos de apoios do Ministério da Agricultura.
Enfim, anda muita gente com medo que a inteligência artificial lhes roube o trabalho. Pffff.