Quinta-feira, Março 28, 2024
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João Rendeiro, vá para fora, vá dentro

Uma lição que devemos aprender, com isto da detenção de João Rendeiro, é que devemos dar mais atenção ao pijama, pois nunca sabemos quando é que a Polícia Judiciária aparece a meio da noite. Consta que o ex-banqueiro estava com um pijama assim-assim e terá ido de camisa cor-de-rosa para a prisão, que é a segunda lição. Camisa cor-de-rosa para a prisão, não. Quando o destino é a prisão, vamos esquecer aquela coisa de já não existirem cores para meninos e para meninas.

A cobertura desta detenção pela imprensa dita verdadeira tem sido bastante boa. Desde logo, esta atenção dada à indumentária de João Rendeiro no momento da detenção, feita pelo Observador. É bastante Observador, sem dúvida. Eles não podem relatar mais, porque não estavam lá, mas o Imprensa Falsa estava. Por exemplo, quando a polícia sul-africana tocou à porta, Rendeiro acordou meio estremunhado e até pensava que estava na Quina Patino. “Maria, quem é a esta hora? Vai lá tu, filha…”, disse para o lado, mas não estava ninguém. Ou melhor, estava a equipa do Imprensa Falsa, mas escondida atrás dos famosos cortinados. 

Pouco depois, Rendeiro lá percebeu onde estava e foi à porta. “Quem é? Eu não pedi room service…”, gritou, quando se ouviu do outro lado “Police!”. “Não estou no Belize! Já disse! Que maçada…”, respondeu o foragido, que ainda não tinha acordado completamente. “É a Polícia! Polícia Judiciária!”, lá explicaram os inspectores portugueses, levando João Rendeiro a tentar passar por Joacine: “Po-po-po-po-po-po-po-lí-lí-lí-lí-cia!?”

Em pânico, ainda tentou esconder-se na casa de banho, mas devido à escuridão acabaria por abrir mesmo a porta da rua. “Parece surpreendido”, comentou o agente da polícia sul-africana. “Estava à espera de ver um bidé, amigo…”, lamentou João Rendeiro. A imprensa também relatou esta surpresa com que o antigo líder do BPP recebeu as autoridades. Não deixa de ser estranho um foragido ser surpreendido com uma detenção a meio da noite. O normal seria a polícia chegar ao hotel e Rendeiro já estar no lobby, com as malas prontas e o check-out tratado: “Estava a ver que nunca mais.” 

Para além de tudo isto, houve também alguma imprensa que foi fazer directos para a porta de um condomínio de luxo – é tudo um luxo em Rendeiro, não vale a pena estar sempre a dizer – por onde não vai passar, nem para dentro nem para fora, durante o todo o dia e nas próximas semanas, ninguém de interesse. Só ricos a sair para o golfe, a vir do spa, a fugir do país, a regressar da neve, a transportar um corpo na mala, etc.. Claro que um directo da rua é sempre mais impressionante, isso sou capaz de perceber. Mas então podem fazer da porta do noticiário, porque o planeta está a derreter, sempre se poupa algum CO2. 

Entretanto, noutro ângulo da mesma questão, já se ouviu dizer que foi um grande dia para a Justiça e que estão todos de parabéns. Agarraram o Rendeiro! Ora bem, há aqui vários pontos. Primeiro, não foram eles, foi a senhora Rendeira. Isto, no fundo, é uma história de amor. A Maria não aguentou as saudades e disse em Tribunal onde é que estava o João. Não vai para casa, é certo, mas pode ser que vá para o Linhó, sempre fica mais perto, podemos ir levar-lhe amêijoas do Monte Mar. Eu sei que o director da Polícia Judiciária afirmou que as informações prestadas pela ex-banqueira de nada serviram para a captura do ex-banqueiro, mas alguém consegue vê-lo a admitir, em plena conferência de imprensa, que foi uma tia de Cascais que apanhou o homem mais procurado do país? Por amor de Deus. Ele até é capaz de dizer que ela só disse que ele estava na África do Sul para despistar as autoridades. 

Depois, para o sucesso desta detenção, cumpre-nos elogiar mais o próprio João Rendeiro do que as autoridades. É que dar fé do nosso paradeiro a uma mulher em fúria, abandonada num casarão, sem móveis, com as cadelinhas a ladrar em eco e ainda vai presa um ou dois dias por quadros que o outro descaminhou… mais prático que isto só se o senhor se fosse entregar às instalações da Polícia Judiciária. 

Por fim, e ainda a este propósito, devemos também elogiar o cavalheiro por ter escolhido um país que tem acordo de extradição com Portugal. Se isto não é querer voltar sem pagar a viagem, como bom caloteiro, não sei o que é. Sei é que não é a Justiça a funcionar, como já se disse. No limite, até foi mais as saudades. 

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