Verificou-se ontem mais um debate do Estado da Nação no Parlamento. Durante quatro horas, o Governo teve de enfrentar as investidas da Oposição. Claro que, com maioria absoluta, a discussão é francamente mais tranquila. É mesmo um passeio na avenida e numa avenida sem carros aos domingos. Eu, no lugar do primeiro-ministro, diria mesmo “falem para a minha mão”. No caso de alguns ataques mais duros, podia responder com um manguito, isto para não mencionar a hipótese de, numa ou noutra situação, mostrar o rabo.
– Mostra o rabo para que efeito, o senhor primeiro-ministro? – Pergunta o presidente da Assembleia da República.
– Defesa da honra, senhor presidente.
É verdade que o debate tem quatro horas, mas três horas e meia são passadas a bater palmas. A cada frase do chefe do Governo, do ministro ou de um deputado do nosso partido, uma grande ovação. Nem a Amália Rodrigues ouviu tantos palmas no Japão.
Claro que os deputados únicos têm de bater palmas a si próprios. Eu fazia-o, sem problemas. Sendo que, se fosse deputado de outro partido, também bateria as minhas palmas a um deputado único. Dá-me pena, querem o quê!? Se o líder da minha bancada viesse questionar-me sobre aquele gesto, explicava: – Chefe, se eu lhe bater palmas, ele fala menos tempo, não está a perceber? É que ninguém lhe bate palmas e ele fica com os três minutos líquidos. Não é justo.
Em todo o caso, devo dizer que acho as palmas curtas no que à demonstração de apoio diz respeito. Não se tratando de um verdadeiro debate parlamentar, mas sim de vários pequenos comícios partidários, penso que também deviam levar bandeiras. E cantar o hino do partido no final da intervenção. O presidente da Assembleia dava a palavra, o orador dizia “obrigado, senhor presidente” e a bancada batia logo uma salva de palmas, agitava as bandeiras, tocava o hino do partido e depois o nacional.
Há, porém, uma intervenção no debate de ontem que eu quero destacar. Foi a melhor da tarde, apesar de não ter recebido palmas, pelo contrário, o orador foi convidado a sair do hemiciclo por agentes da PSP. Trata-se de um cidadão que quis interpelar o primeiro-ministro sobre, segundo rezam as notícias, os perigos do 5G. Foi bastante conciso, graças, em parte, à rápida intervenção da PSP, mas terá dito o que tinha a dizer. O Governo, como é seu hábito, não respondeu.
E por fim, o elefante no meio do Parlamento. Temos de falar sobre isto. A Assembleia da República é a casa do povo e o órgão da democracia que fiscaliza a acção do Governo. Contudo, está cada vez mais desligada dos eleitores. O povo já não quer ouvir o que “eles/elas” estão para ali a dizer, o que não é saudável para o regime democrático.
Proponho, por isso, alterações. Estes debates estão esgotados e ultrapassados. A minha ideia era um programa que tivesse mais audiência. “Quem quer casar com o primeiro-ministro?”, por exemplo. Ou mesmo um Big Brother na AR TV. Em vez de quatro horas, o debate durava quatro meses, ficando os parlamentares e o Governo ali fechados durante esse período. Já aconteceu, no passado. Pinheiro de Azevedo não gostou, mas não podemos agradar a todos.
Acho que podia funcionar. As eleições podiam ser substituídas por galas e os portugueses iam expulsando um a um, todas as semanas. Fica a sugestão, porque isto não pode ser só criticar.