Na verdade, não há nenhuma desculpa má para um feriado. Por exemplo, um feriado para celebrar o aparecimento do Simplício, o labrador da família Simplício, que esteve fugido dois dias. Não é motivo para um feriado? Há acontecimento mais fofo que o reencontro de uma família com o seu animal de estimação?
Pois bem, a restauração da independência também é uma boa desculpa para não ir trabalhar, porque a memória é o maior activo de um povo.
Sucede que nós, em bom rigor, precisávamos de restaurar a independência outra vez. Hã? Então, bem vistas as coisas não somos assim tão tão independentes. Por exemplo, no Verão, os incêndios? Tivemos de pedir aviões a Marrocos. A Marrocos!
Mas dizem-me assim: “Também não custa nada pedir dois aviões. Isso não quer dizer nada.” Pronto, está bem. Então eu lembro que Timor-Leste – ele deve ter-se enganado – não me enganei, não. É mesmo Timor-Leste: Aprovou uma doação de dois milhões de euros a Portugal por causa dos incêndios.
Aliás. Eu não queria ir à questão financeira, que está mais do que batida, mas não é irónico termos de pedir dinheiro emprestado para podermos celebrar a independência com um feriado? Já se viu algum bicho independente sem ser financeiramente independente? Só um adolescente na idade do armário. Mas esse não é independente. Tem apenas a mania.
Por outro lado, uma coisa são os países no meio do mundo, mas nós aqui na península, só com espanhóis… celebrar a restauração da independência é um pouco esquisito. Parece uma eterna discussão entre vizinhos.
Os discursos são muito profundos e históricos, mas parece que estamos todos com a mão no bolso, virados para Espanha: “Querem o quê? Hã? Não há cá tapas! Xô daqui! Ai…”.