Foi com grande alegria que assistimos ao Brasil a levar 7 da Alemanha. Mas calma, porque teria sido com a mesma alegria ou até talvez mais que assistíamos à Alemanha a levar 7 do Brasil. Para nós, qualquer resultado era bom desde que alguém levasse 7. Mesmo que para alguém levar 7 seja preciso alguém de quem também não gostamos muito dar esses 7.
Mas porquê? De onde vem este nosso mau feitio internacional? Eu tenho uma explicação que, embora não seja muito boa, é talvez a melhor que existe, até porque não há mais nenhuma.
Portugal foi um império. Mas agora já não é. E isso custa um bocado. Agora estamos reduzidos a um pequeno território – tanto que até já começámos a contar com a água para dizer isto não é assim tão pequeno – e até a nossa língua materna é barbaramente violada, em traduções que acabam por ser português do Brasil e até português de Espanha.
Éramos ricos e famosos, agora nem uma coisa nem outra. Por isso não estamos para muitas conversas com o resto do mundo.
Foi o Brasil que levou 7. Mas imaginem que tinha sido a Alemanha. Agora imaginem que tinha sido a Espanha, que mesmo assim já nos deu uma grande alegria neste Mundial. E se tivesse sido a França? E os ingleses? Então e Angola? E os convencidos dos italianos? E os norte-americanos, os senhores do mundo, com 7 puas naquelas redes? Hã!? Até ficamos com os mamilos entumecidos só de imaginar isto.
Mas assim como não apreciamos esta gente, esta gente também não aprecia nós – isto, por exemplo, é português das novelas. Daí que, um bom argumento para justificar a nossa grande satisfação com as 7 macacas nos nossos irmãos brasileiros é que eles também não são correctos connosco. Acham-se superiores. Tal como os angolanos. E os espanhóis. E os ingleses. E os franceses. E os norte-americanos.
Na verdade, a única nação que nos é verdadeiramente indiferente é o Principado da Pontinha, aquele ilhéu junto à Madeira, que um cavalheiro reclama como seu por carta régia de 1903. É claro que, com 178 m2, e sem a porra de um café, mais valia o cavalheiro ter ocupado um edifício devoluto no Funchal.
Mas pronto, se o Principado da Pontinha estivesse no Mundial, talvez não tivesse graça vê-lo levar 7 golos 7. Afinal de contas, é um país vizinho, um país irmão, que faz o favor de continuar a ter uma economia mais pequena que a nossa. Por enquanto, claro, pois não faltará muito para vermos o Principado da Pontinha a oferecer autotanques aos bombeiros portugueses.
Havia porém um outro país que quase conseguia recolher alguma simpatia junto dos portugueses. Era a Holanda. Sim, creio que havia alguns portugueses a torcer pela Holanda. Mas na verdade, só se está pela Holanda para não se estar pelos outros. Creio que os portugueses desenvolveram uma simpatia com a Holanda para socialmente não serem deselegantes. Não estamos pelo Brasil, pela Espanha, pela França, pela Inglaterra e por aí fora porque estamos pela Holanda.
Mas também só estamos – ou estávamos – pela Holanda porque não está lá o Principado da Pontinha. Ora digam lá se também não dava muito gozo ver o Principado da Pontinha a espetar 7 na Holanda.