Eu apanho muitas coisas na praia, de manhã. Mas isto – uma rosa, uma garrafa de champã e cigarros – é uma novidade.
Até podia ser que os dois tivessem sido levados por uma onda, mas era muita sorte e sobretudo muita coincidência ser só depois de mamarem a garrafa de champã.
Por outro lado, o mar também teria levado as pontas dos cigarros, porque o mar gosta de fumar a sua cigarrada. Prefere uma bela cachimbada, é verdade, mas o homem moderno só consome porcaria e o mar acaba por se contentar com o que há.
Conclui-se, portanto, que deixaram deliberadamente para trás, na praia, o que resta daquilo que terá sido um pedido ou uma declaração. Uma vez que até a rosa ficou para trás, que a garrafa foi integralmente consumida e que os cigarros foram deixados a meio, logo nervosamente fumados; tudo leva a crer que estamos na presença de uma tampa. Ora, eu costumo ter vontade de esganar quem deixa lixo na praia. Hoje, porém, gostava de lhe dar um abraço antes de esganá-lo.
Existe, naturalmente, a hipótese da minha teoria estar errada e de se tratar apenas de um casal tão romântico quanto porco. Nesse caso, oxalá tenham ficado os dois muito assados, em resultado da acumulação de areia nas partes, para a qual contribuiu o forte vento que se fazia sentir. Oxalá também, inebriados pela libido, não tenham dado conta da presença da areia e tenham avançado apaixonadamente para um coito que viria a ser interrompido por corrosão das partes.