Impõe-se uma análise séria e profunda sobre a marquise de Cristiano Ronaldo, o mais badalado anexo da história da Humanidade. Muitos desvalorizam o tema, revelando não ter consciência do que verdadeiramente importa. É que não estamos a falar apenas de uma marquise, mas da marquise de Ronaldo, a melhor marquise do mundo por inerência.
Aprecie-se ou não a obra, com a facilidade com que Cristiano limpa troféus, não é de admirar se arrecadar este ano o Prémio Pritzker – o galardão máximo em arquitectura. E provavelmente Messi fica em segundo lugar com um igualmente espectacular barracão.
É por isso impossível, também neste caso, separar a obra do artista. Porque é a marquise de Ronaldo. Só por isso já conquistou a simpatia e admiração de todos. Vamos supor que a marquise era, não de Ronaldo, mas de Ricardo Salgado. Ou de Joe Berardo. Joe Berardo teve, aliás, um problema semelhante: um w.c. virado para o Palácio das Necessidades. Não vi ninguém a defender o trono do coleccionador de arte e de esquemas, voltado justamente para um palácio que é das necessidades. Nem ninguém se interrogou se o palácio não terá, também ele, um w.c. com vista para a casa de Joe Berardo.
É que a popularidade de Joe Berardo não é grande. Já Ronaldo podia fazer um w.c. onde quisesse, nomeadamente no meio da Rua Castilho. Um w.c. todo em vidro, no centro da cidade. Fica a ideia. Turismo de todo o mundo para ver o melhor jogador do mundo a arriar o melhor calhau do mundo.
É evidente que se a famigerada marquise fosse a referendo, o sim ganharia por maioria absoluta, talvez mesmo unanimidade, menos um voto, o do arquitecto. E não era o sim que ganhava, mas o “SIMMMMMM!”, popularizado pelo próprio craque.
Por falar em arquitecto, foi dos poucos que se manifestou contra aquele majestoso palácio de cristal que coroa não só o edifício mas toda a cidade, o país, o mundo. Eu percebo. Imagine o estimado leitor que era um conceituado arquitecto, idealizava uma obra daquelas e ia dar com o mundo inteiro a discutir uma caixilharia em alumínio que nunca lhe havia passado pela cabeça, nem nos seus piores pesadelos.
É como se todo o prédio fosse apenas um pedestal para o deslumbrante anexo. De repente, o arquitecto tinha desenhado apenas um suporte, um andaime, a base onde assentaria, garbosa, a marquise. Manda a compaixão, portanto, aceitar a revolta do arquitecto e apoiá-lo nesta fase. Com que motivação desenhará o próximo projecto, sabendo que pode perder outra vez, desta feita para um jardim de Inverno ou mesmo um barbecue em alvenaria?
A situação é tão complicada que, nesta fase, já não se sabe qual é o anexo, se a marquise ou o prédio. Devo confessar, até, que quando comecei a ouvir falar em demolição, não percebi à partida se estavam a falar no sumptuoso alpendre ou no vulgar edifício que está por baixo.
Enfim, tenhamos a consciência de que uma marquise de Ronaldo nunca será uma simples marquise, mas a melhor marquise do mundo. Qualquer dano que se lhe inflija, isso sim é um atentado.