De repente, sem que os portugueses se apercebessem, estava o mundo inteiro a jogar Pokémon Go. Entretanto, o jogo chega a Portugal e… de repente, sem que os portugueses se apercebessem, estavam também eles a jogar Pokémon Go. Falamos de um jogo em forma de aplicação para telemóvel que consiste apanhar em Pokémons. Consiste em apanhar mais umas coisas, mas tecnicamente ficamos por aqui, sob pena de isto passar a ser um tutorial e eu passar para o You Tube, com vídeos em que começo com “Então e aí, pessoal?”.
Claro que, como qualquer moda, motivou tanta paixão quanto ódio. O engraçado é que foi muito rápido. Por exemplo, começou a odiar-se a expressão “então é assim”, mas levou o seu tempo. Mesmo Sócrates ganhou duas eleições. O Pokémon foi tiro e queda. Foi logo odiado. Ou amado. Sem ninguém perceber do que se tratava. A primeira coisa que se ouvia dizer quando alguém falava em Pokémon era: “mas afinal isso é o quê!?”.
Pela minha parte, já instalei o Pokémon Go e já apanhei uma série de bicharada. Não percebi muito bem o conceito, mas estou a achar graça. Não estou a achar uma graça séria, como se tivesse comprado uma Harley Davidson Roadster. Estou a achar graça como se tivesse roubado uma, ou seja, mais cedo ou mais tarde e acabar a brincadeira.
Bom, mas haverá outros casos de pessoas que vão continuar a jogar. Esses estão a ser vilipendiados por um conjunto de pessoas que sofrem daquilo a que eu vou chamar Pokefobia, repulsa ou preconceito contra o Pokémon. Não é caso para tanto. Eu acho mais absurdo correr para um par de jeans a dois euros numa inauguração da Primark do que acabar esmagado por uma multidão em fúria atrás de um Vaporeon – para quem não sabe, é um potente Pokémon.
Há tantos absurdos. É absurdo ficar nas redes sociais a comentar o que se está a ver na televisão. É absurdo irem todos à mesma hora para a Costa, ao domingo, e regressarem todos à mesma hora. É um absurdo discutir durante quatro horas um lance de futebol.
Dir-me-á o Leitor mais ponderado: “Bom, mas a fazer essas coisas as pessoas não ficam mongas”. Mas ficam. Falar com um cavalheiro a tentar caçar um Pokémon numa esplanada ou com outro na fila para a ponte, vai dar ao mesmo.
Por outro lado, este jogo tem a virtude de obrigar os jogadores a deixarem a sua zona de conforto, como diria o outro. É preciso andar, sair de casa, correr, procurar, pensar, pesquisar, conquistar. Não me parece mal. Entre isso e virar um pacote de batatas enquanto se atropela pessoas nas ruas de Miami, mil vezes o Pokémon.
Mas não há bela sem senão. Não deixa de ser trágico descobrir que já chegámos àquele ponto em que para se sair à rua é preciso ser-se desafiado por figuras mirabolantes no telefone. E qualquer dia mandam os pokémons. O que, bem vistas as coisas, face ao panorama político, se calhar nem era pior.
Por fim, temos de abordar uma terceira faceta do Pokémon Go, de incontornável relevância ao nível da estabilidade familiar. Pela primeira vez em muitas décadas, os homens e as mulheres têm desculpa para chegar tarde a casa sem terem de justificar com a) avaria mecânica, b) desastre, c) reunião de trabalho ou d) encontro de amigos. Hoje pode perfeitamente chegar-se a casa às cinco e meia e… “onde é que tu andaste até esta hora?”, “então, estive na mata do Buçaco à caça de um Pikachu, querida, dorme que é muito tarde”. No limite o adúltero passa por palerma, o que sempre é melhor do que ir à procura de casa.
E sobre o Pokémon Go é isto. Não há muito mais a dizer. É uma febre sim, portanto passa. Não é preciso metê-los em quarentena.