Encontraram-se para um debate, ontem na RTP, os dez partidos sem representação parlamentar. O evento tem sempre um lado cómico – aqui e em qualquer democracia – porque são as forças políticas com menos expressão, onde se escondem, com frequência, alguns lunáticos. A política atrai, como sabemos, pessoas que no seu íntimo querem ajudar, mas no nosso íntimo nunca lhes passou pela cabeça que o seu grande contributo é não contribuírem com nada. Só ficar a ver. Desenvolve-se pouco este dever de cidadania de estar quieto, não num sentido de indiferença em relação ao que se passa na sociedade, mas de consciência sobre o que se pode dar.
Há uns anos, quando trabalhei numa empresa relativamente grande – e face à dificuldade em despedir que a legislação laboral consagra -, defendi que alguns funcionários deviam ficar em casa, mantendo, naturalmente, o rendimento. Uma espécie de teletrabalho, mas neste caso só tele. A razão era simples; apesar de tudo, o dano era menor para a empresa se nada fizessem. Não foi para a frente, sendo que na minha proposta ainda estava incluída a subscrição de canais de cinema para os funcionários em tele. Não havia Netflix.
Avancemos então, começando pelo lado cómico do debate. Gostei de ver a líder do RIR, que substituiu Tino de Rans – ou melhor, Vitorino Silva -, a explicar que o Tino era um pouco ridicularizado, então teve de ir ela para a frente do partido. Coloca as expectativas altas, a candidata. Devia reparar que a sigla do seu partido é RIR, o que pode induzir um ou outro incauto em erro. E às vezes parece. Tem, no seu programa, a proposta de reforçar o ensino da matemática. Isto é populismo ao contrário e demagogia inversa, mas compreende-se porque os mais jovens não votam.
Depois temos o histórico Pinto Coelho, que levou para o debate uma das suas principais bandeiras, chamar ponte Salazar à ponte 25 de Abril. Uma vez que em ambas as entradas pode ler-se “Ponte 25 de Abril”, o líder do Ergue-te faz sempre a ponte em marcha-atrás, numa manobra muito perigosa. Mas pelo menos não lê aquilo. Penso que também devia chamar ponte da Mega Feijoada à ponte Vasco da Gama.
O ponto alto de Pinto Coelho registou-se logo no início do confronto, quando, sobre determinado assunto, disse ao jornalista Carlos Daniel, “não quero discutir isso, mas se discutisse tinha montes de argumentos”. Este é o argumento dos argumentos e este homem podia ser um génio, não fosse um tédio. Temos de passar a usar. Até funciona em casa, reduzindo as discussões a zero.
Entretanto, o líder do ‘Nós, Cidadãos’ reconheceu que é “preguiçoso como qualquer português com quatro dedos de testa” e garantiu que nem era para estar ali. Lamentamos pelos que ficaram pendurados, mas ainda bem que foi.
Houve muita coisa, tudo imperdível. Uma candidata disse que não podíamos contar com os mais velhos para nada. Isto ao lado do candidato do PCTP, que já não vai para novo. Ossanda Líber, da Nova Direita, que de repente começa a atacar Carlos Daniel, porventura o jornalista mais simpático – virtude que acumula com a competência – e ali na qualidade de super-herói. Aliás, Carlos Daniel vai para o Panteão pela credibilidade que consegue dar àquele evento, mantendo sempre a calma. Gerir aquilo não é fácil e o risco é grande, porque há sempre uma tensão latente. São pessoas que têm aquilo tudo preso há muito tempo. Qualquer faísca e vai tudo pelos ares. Nem realizaram o debate na RTP porque, se explodisse, tinham de ser os contribuintes a pagar. Pediram a casa à Nova SBE, que tem mais folga.
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